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Cosme Rímoli - Blogs

‘Tempo é tudo o que vou mais ter.’ Morte de Celso Fonseca deixa enorme vazio no melhor jornalismo deste país. Sorte de quem foi seu amigo

Os sonhos das carteiras duras da faculdade Cásper Líbero se tornaram realidade. Nasceu ali um jornalista digno, culto, mestre com as palavras. E que contestava o mundo de sua maneira, suave, sorrindo. Encantando quem teve a sorte de tê-lo como parceiro de vida

Cosme Rímoli|Do R7

Por trás do sorriso de menino, um jornalista intenso, culto, com visão diferenciada do mundo. E da relação entre chefes e comandados Reprodução/Instagram

“Cosme, está tudo bem...

“Eu quis sair. Já trabalhei muito.

“Agora, eu quero aproveitar.

“Vou diminuir o ritmo.


“Ficar mais perto da família.

“São quase 40 anos de jornalismo...


“A gente marca de se encontrar.

“Tempo, agora, é o que eu mais vou ter...”


Foi a nossa última conversa, Celso.

No dia 21 de dezembro de 2024, com triste precisão, as mensagens estão no meu celular.

O destino quis que, nestes seus 40 anos de jornalismo, nós nos encontrássemos várias vezes.

Tudo começou em fevereiro de 1982, para ser também exato.

No fundão de uma das salas da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero.

Eu, você, Denilson Azzoni e o Henrique Stroeter.

Mistura de personalidades diferentes, incompatíveis, antagônicas.

Cada um carregando seu sonho.

Eu, obcecado pelo Jornal da Tarde. O Denilson queria o Estadão, se não desse, iria para o meio do mato, para onde foi, depois de décadas de Agência Estado.

O Henrique não falava de jornalismo, sempre teve alma de ator. E virou um talentosíssimo.

Mas o personagem principal hoje é você.

Leitor voraz, cinéfilo, amante de jazz. Filho da classe média alta de Jundiaí, que defendia e, com raiva, não aceitava ser chamado de provinciano.

Era apaixonado por todas as musas impossíveis da faculdade, lembra?

Quanto mais bonita e mais comprometida, mais desejava, fantasiava. E tentava. Dando certo ou não, sempre estava sorrindo, distribuindo abraços nas festas, regadas a vinhos baratos.

Os nossos trabalhos em grupo eram surreais. Todo mundo dando palpite e você, já discretamente, tinha um senso de organização, de juntar as ideias, dar forma à anarquia. Fazíamos o que você queria, sem percebermos.

Nasceu para ser chefe.

Você se tornou excelente e meticuloso repórter.

Mereceu a carreira vitoriosa.

Começou na provinciana Jundiaí, não me xingue, ou por Campinas. Até que o jornalista chegou na cidade grande. Tomei um grande susto quando o vi na redação do Jornal da Tarde. Foi um reencontro que deu orgulho para os dois.

Você, preocupado com entrevistas para Variedades, queria falar com as estrelas que irava. E conseguia.

Me atormentava para saber novidades do Corinthians e querendo detalhes sobre as suas novas musas, desta vez, mais vividas, do JT, do Estadão, principalmente, as fotógrafas.

Nós, do Esporte, fechávamos o jornal meia-noite, uma da manhã. E você, em Variedades, às oito da noite. Mas muitas noites ficava no Joe, bar embaixo do jornal, conversando horas, sempre sorrindo e apresentando tese para tudo.

Caso aparecesse uma fotógrafa, uma repórter, uma estagiária, mostrava toda sua verve, o quanto poderia discutir sobre Miles Davis, Gay Talese ou o caminho da esquerda sa. Você sempre foi sedutor e usava sua cultura e simpatia como arma, que muitas acabaram por sucumbir.

E com o caderno de Variedades, do dia seguinte, já impresso. Com entrevistas e matérias suas.

Seu texto era fluente, envolvente.

Sempre teve talento.

Até que você sumiu do JT.

Como daqueles jogadores que não resistem a novas propostas. ou por várias redações, trocando, aos poucos, o repórter pelo cargo de chefe. Foi para Isto É, Brasileiros. Rodou pela nata do jornalismo de São Paulo, que já era sua cidade. Foi responsável por matérias e coberturas históricas.

Até que nos encontramos de novo no R7. Você no mesão, dando o Norte para o portal. Sendo referência do bom jornalismo. Enxergando além do normal, do óbvio. Cérebro sempre inquieto. Pronto para discutir, com profundidade, qualquer assunto. Me pedia pautas com carinho, explicava o motivo que elas seriam importantes. Impossível falar ‘não’.

Me chamou, insistiu que eu fosse na festa de reencontro, 40 anos depois, dos alunos da nossa classe da Cásper Líbero. Aí eu recusei. Fui sincero. “Celso, prefiro lembrar das garotas quando tinham 19, 20 anos. Não quero ficar deprimido. Eu não vou.” Você foi e me deu razão...

Em compensação, tive a sorte de ir, com amigos do coração, conhecer seu apartamento lindíssimo no coração de São Paulo.

Art Déco, dos anos 40, em plena avenida São Luís, centro do centro de São Paulo.

Regados a vinho, relembramos todas as musas, falamos do Corinthians, jornalismo, política.

E comemos pizzas ruins.

Clichê de homens que viviam momentos de separação.

Você já insistia em diminuir o ritmo, não trabalhar tanto, aproveitar a vida.

Ficar de olho no seu pai, em Ribeirão Preto.

Eu não acreditei que você fosse parar.

Mas cumpriu sua palavra, saindo do R7 pouco antes do Natal.

Me assustei, aflito, liguei. Você tranquilizou meu coração. Me disse que havia decidido seu destino, algo tão raro no jornalismo brasileiro.

Celso Fonseca, você só errou, infelizmente, na sua previsão, escrita na mensagem que enviou para o meu celular.

Tempo foi tudo o que não teve.

Para falta de sorte minha e de quem teve o privilégio de te conhecer.

Vá em paz, meu amigo...

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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